O Espetáculo do Eu: Ginástica egocêntrica 24 horas por dia.

Por Fredi Jon

Vivemos tempos de academia intensa, mas não a do corpo, e sim a do ego. Treinamos o “eu” com a mesma obsessão com que um fisiculturista treina o bíceps: todos os dias, sem folga, com espelho, filtro e curtidas. No palco contemporâneo, onde o “ser” virou “parecer”, as redes sociais são a esteira ergométrica do narcisismo. A gente corre atrás de aprovação, mas sem sair do lugar.

No Instagram, somos protagonistas de nossas próprias novelas, cada postagem um capítulo, cada story uma cena ensaiada. “Bom dia, amores”, diz a criatura que mal se suporta fora dos filtros. No X (antigo Twitter), exercitamos a indignação instantânea, aquela que dura o tempo de um café e um retuíte. Já no TikTok, o ego faz dancinhas enquanto o senso crítico assiste sentado, quieto num canto.

A política então… ah, a política! O palco máximo dos egos inflados a gás hélio. Lá, os títulos de “Excelentíssimo” e “Doutor” servem de mordaça para a mediocridade, como se a formalidade encobrisse a falta de escrúpulo. Não governam, performam. Não debatem, duelam egos em rede nacional, cada um lutando para ver quem tem a vaidade mais maquiada e o discurso mais autocentrado. O bem comum? Esse é apenas figurante que aparece nos discursos de campanha e some na apuração dos desvios.

Nos ambientes de trabalho, o ego usa crachá e roupa social. Faz reuniões intermináveis onde a vaidade fala alto e a escuta é opcional. Ali, quem questiona a liderança narcisista vira “inadequado”, “não colaborativo”, ou — no dialeto corporativo — “não alinhado com a cultura da empresa”. Cultura, aliás, que adora falar de empatia… desde que ela não atrapalhe a escalada individual.

E se o ego não estiver suficientemente inflado com curtidas e poder, ele vai à faca. A plástica do ego virou indústria: bocas infladas como boias de piscina, sobrancelhas tracionadas rumo à estratosfera e rostos que não envelhecem, apenas perdem identidade. Corpos clonados de tendências, onde a beleza original foi substituída por um ideal coletivo de perfeição artificial, grotesco de tão simétrico. Tudo pela busca de um “eu melhor” que, ironicamente, só piora.

Mas nem todos entraram nesse circo. Há os que preferem o silêncio à selfie. Que observam esse balé narcisista com uma taça de sarcasmo e uma pitada de melancolia. São os que perceberam que o ego é um ótimo servo, mas um péssimo senhor. Que não precisam provar nada a ninguém, e exatamente por isso, têm mais a dizer.

Esses resistem. Com livros, com escuta, com arte, com humor, com dúvida. Preferem cultivar a presença do que representar o personagem. São invisíveis para o algoritmo, mas presentes para o essencial.

No fundo, o mundo é esse grande reality show onde todos querem aparecer e poucos querem enxergar. A pergunta é: você está treinando para subir no palco… ou para sair dele?

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